Vamos despertar o homo empathicus até então adormecido dentro de cada um de nós
A ciência já deixou comprovado que nosso cérebro é equipado para a conexão social.
Mas pensadores influentes nos últimos três séculos deixaram essa evidência de lado e disseminaram de forma intensa e insistente a ideia de que somos criaturas egoístas por definição, preocupadas em se auto proteger e voltadas exclusivamente para nossos próprios interesses.
Diante desse cenário e com o passar do tempo, essa descrição dos seres humanos acabou se tornando a concepção dominante dos países ocidentais. Passamos a ter uma cultura individualista, tendo nos tornado obsecados por nós mesmos, sempre excessivamente imersos em nossas próprias vidas para conseguir dedicar atenção a qualquer outra pessoa, independente de quem sejam.
Criou-se a imagem do Homo Autocentricus, focado apenas em seus próprios interesses. Pessoas cada vez mais distantes e diferentes uma das outras, deixando de existir características comuns, pensamentos comuns, entendimento, visão do mundo, objetivos, interesses, necessidades e escolhas comuns.
Chegou-se a falar até mesmo no “boom do narcisismo”, na “Era da Introspecção”, na “Década do Eu” (anos 70). Expressões como autoaperfeiçoamento, autorrealização, autoajuda, fortalecimento pessoal e empoderamento ganharam força, enraizando-se nas mentes da maioria das pessoas.
Essa intensa abordagem introspectiva virou sinônimo de felicidade, tendo se colocado a satisfação pessoal num patamar acima de qualquer outro valor.
O mundo passou a se tornar cada vez mais insensível, dificultando e tornando superficial os relacionamentos entre as pessoas. Conflitos constantes se tornaram reais e assumiram de vez a realidade das relações humanas, tomando uma proporção global, influenciando até mesmo na disseminação de problemas políticos e sociais.
Viver passou a ser uma experiência tormentosa, solitária e cansativa.
Porém, com o tempo, as pessoas começaram a perceber que esse comportamento não lhes trazia prazer, muito pelo contrário. Pesquisas trouxeram como realidade índices de satisfação praticamente intactos nos países ocidentais onde a disseminação dessa cultura ocorreu e relatos se tornaram constantes sobre pessoas afirmando que sentem falta de algo em suas vidas, não se mostrando plenamente felizes ou realizadas.
E o que fazer diante dessa situação?
Se mostrou necessário, para a nossa sobrevivência, colocar em prática a realização de profundas mudanças sociais. O processo já foi iniciado, mas se mostra difícil e trabalhoso. Mas não impossível.
Trata-se da mudança de toda uma cultura enraizada nas últimas décadas e esse processo, de fato, não irá se concretizar e gerar efeitos de um dia para o outro. Estamos falando de uma verdadeira revolução das relações humanas.
Cuidar apenas de si mesmo vem se tornando, a cada dia, uma inspiração ultrapassada.
Gradualmente estamos retomando a consciência de que a conexão social nos faz bem e que possuímos circuitos cerebrais aptos a torná-la novamente real.
Somos também Homo Empathicus, fisicamente equipados para sentir empatia, sendo a descoberta do nosso ego empático uma das histórias mais extraordinárias da ciência moderna.
Mas como definir empatia e como utiliza-lá para viabilizar esse propósito?
Empatia tem sua origem na palavra grega empathea que significa paixão.
Pode ser definida como um sentimento de compreensão ao próximo. Envolve consideração a um terceiro com o qual você tem ou pretende ter um relacionamento. Envolve disposição sua, de se dedicar de forma intensa a essa outra pessoa, sendo capaz de compreender seus sentimentos e suas emoções através de uma análise profunda e racional dela.
E para que compreender sentimentos e emoções dos outros?
Para diminuir o distanciamento das pessoas, aproximando-as, melhorando a qualidade da comunicação e do relacionamento entre elas.
Através dessa ferramenta, você compreende as motivações da outra pessoa para agir e se comportar de uma determinada maneira. Você entende as razões por trás das ações e decisões tomadas por essa outra pessoa, deixando de julgá-la, diminuindo consequente e automaticamente possíveis desentendimentos, brigas e discussões.
Brené Brown, pesquisadora da Universidade de Houston e grande estudiosa sobre os temas coragem, vulnerabilidade, vergonha e empatia, destaca que empatia é sentir com as pessoas.
É a capacidade psicológica de sentir o que sentiria uma outra pessoa caso você estivesse na mesma situação vivenciada por ela, tentando compreender seus sentimentos e emoções, procurando experimentar, através da imaginação, de forma objetiva e racional, o que está sentindo essa outra pessoa.
Metaforicamente, ter empatia significa vestir os sapatos dos outros, colocando-se no lugar dessa outra pessoa, caminhando o percurso que ela percorre, procurando compreender o seu sentimento a partir do ponto de vista dela e não do seu.
Pressupõe uma comunicação afetiva com a outra pessoa e representa um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica dos outros indivíduos. Leva as pessoas a se ajudarem de forma recíproca e, por ser uma troca de experiências, aproxima os seres humanos, fazendo envolverem-se mutuamente, diminuindo as diferenças eventualmente existentes entre aqueles que se relacionam de forma empática.
Está intimamente ligada ao altruísmo, que pode ser considerado como o amor e interesse pelo próximo e à capacidade de ajudar.
A confusão entre empatia e simpatia não pode existir. Apesar de serem palavras com grafias parecidas, diferem bastante com relação ao seu significado.
Demonstrar empatia não tem nada a ver com ser simpático. É muito mais profundo que isso.
Simpatia é a expressão que designa a vontade de agradar alguém ou estar na companhia dessa pessoa. Já a empatia é a emoção de se colocar no lugar do outro, buscando conhecer e compreender aquele com o qual você está sendo empático.
Também não se pode confundir empatia com expressões de compaixão como piedade e sentimento de pesar por alguém, onde não existe a tentativa de compreender as emoções e os pontos de vista da outra pessoa.
A empatia é uma habilidade. Você não nasce com ela, devendo praticá-la e torná-la parte do seu dia a dia, parte da sua vida, visando sempre a qualidade dos relacionamentos por você mantidos. Cultivando esse hábito, você trará impacto não só na vida da pessoa com a qual você está se relacionando e que está sendo alvo da empatia, mas também perceberá impacto na sua própria vida, sendo tomado por uma sensação constante de positividade e bem estar.
Não espere que a atitude empática parta da pessoa com a qual você está se relacionando. Seja você o responsável por essa mudança, por essa transformação. Mostre, você, alguma forma de empatia com o próximo e, automaticamente, mudanças serão percebidas. As energias positivas emanadas por você certamente irão gerar um efeito na pessoa atingida pela empatia e as chances de um ciclo virtuoso tomar forma e se instalar no relacionamento aumentam de forma considerável.
Inúmeros são os benefícios que a empatia pode trazer.
Falando na esfera de nossas vidas individuais a empatia é capaz de melhorar a qualidade dos relacionamentos e ainda curar relações desfeitas. É capaz de aprofundar as amizades existentes e ajudar a criar outras novas, o que se mostra muito útil em um mundo onde uma entre quatro pessoas sofre de solidão como demonstram pesquisas realizadas. Utilizando-se da arte de se colocar no lugar do outro, nos tornamos capazes de nos questionar sobre suposições e preconceitos próprios, desenvolvendo novas maneiras de pensar sobre nossas prioridades de vida.
Já pensando globalmente, existe uma necessidade imperiosa de utilizarmos a empatia para enfrentar problemas como a violência étnica e política, a intolerância religiosa, a pobreza e a fome, os abusos de direitos humanos, o aquecimento global, o desmatamento entre tantos outros comportamentos que afetam a sobrevivência de todos nós seres humanos.
E como mudar esse cenário?
A resposta não tem como ser outra. Expandindo nosso potencial empático.
Somos, sim, fisicamente equipados para a empatia. É o que comprovam as pesquisas realizadas sobre o assunto. Devemos ativar nossos circuitos cerebrais em prol das conexões sociais, fazendo despertar e reviver o Homo Emphaticus que reside dentro de cada um de nós, adormecido há mais de três séculos.
É uma questão de escolha. Basta você querer!