O divórcio e o seu filho

Deixando um pouco de lado o assunto da pandemia do coronavírus que tanto vem nos preocupando nas últimas semanas, acho importante falar sobre um outro assunto que, no meu ponto de vista, nunca pode ser por nós esquecido, nem mesmo em momentos como este que estamos vivendo.

E que assunto é esse?

A importância de você conseguir manter, de forma constante, a qualidade das suas relações familiares e principalmente a qualidade do seu relacionamento com o seu filho.

E vou falar sobre esse tema destacando uma percepção que eu tenho e que é decorrente da experiência adquirida através da minha atuação como advogado e também como mediador de conflitos, sempre focado nas áreas das relações familiares e do direito de família.

Essa percepção é antiga, e de tanto que ela me incomoda, acabou fazendo com que eu me preocupasse em desenvolver, paralelamente a minha atividade principal, todo um trabalho focado em auxiliar pais a se relacionarem com seus filhos de uma maneira capaz de trazer mais proximidade e intimidade para os seus relacionamentos.

Mas vamos lá, deixa eu explicar de forma mais detalhada isso tudo.

O que eu mais presencio nas audiências judiciais, nas sessões de mediação de conflitos das quais eu participo e mesmo durante o trabalho que procuro desenvolver através do que chamamos de advocacia colaborativa, são pais que estão em fase de término de seus relacionamentos conjugais e não conseguem se entender sobre assuntos que devem ser resolvidos diante de uma nova formação familiar e de uma nova realidade que se forma.

Como exemplo desses assuntos eu posso citar as questões da partilha de bens do casal, da guarda e moradia das crianças e dos adolescentes, do regime de convivência e principalmente do valor da pensão alimentícia que é de responsabilidade proporcional de ambos os genitores para que seja possível a subsistência dos seus filhos.

Nas discussões que eu presencio, e posso dizer que não são poucas, a percepção que eu tenho é que os interesses das crianças e dos adolescentes são deixados de lado, prevalecendo sim os interesses pessoais daqueles pais que não estão mais juntos em um relacionamento conjugal.

Na verdade, a percepção que eu tenho é que as próprias crianças e os adolescentes são deixados de lado.

Olha só que sério e que triste esse assunto.

Mas de fato, é realidade.

Tudo bem que é compreensível a existência do desconforto do ex casal diante daquela situação, mesmo porque é inquestionável a frustração pelo fim de um sonho que de fato existiu... afinal ninguém inicia um relacionamento conjugal pensando que um dia ele pode ter fim. Acreditamos sim, no felizes para sempre.

Mas quando existem filhos em comum, a última coisa que pode acontecer é você deixar o seu filho de lado, é você deixar o seu relacionamento com ele de lado, é você esquecer e desrespeitar o princípio do melhor interesse das crianças e dos adolescentes que é previsto e defendido pela nossa Constituição Federal e por tantas outras leis que cuidam desse assunto.

Não podemos deixar que isso aconteça. Nunca.

E a dica que trago aqui para você que está passando por problemas no seu relacionamento conjugal, que está se divorciando ou colocando fim à sua união estável é a seguinte:

Faça uma reflexão e perceba se você está deixando o seu filho de lado.

E independente do resultado da sua reflexão, nunca se esqueça, nada é mais importante do que o seu relacionamento parental. Nada!

Cuide dele desde o nascimento do seu filho.

Faça-o existir de forma íntima e constante.

Torne ele real.

Fazendo isso, com toda a certeza, nenhum assunto será capaz de prejudicar o seu relacionamento com ele.

Fazendo isso, você nunca irá considerar a sua relação conjugal mais importante do que a sua relação com o seu filho.

A sua relação conjugal pode acabar e você poderá estabelecer outras novas, inúmeras na verdade. A legislação hoje te permite casar e se divorciar quantas vezes você quiser e facilitou todos os procedimentos para que isso seja possível.

Mas a sua relação parental, a sua relação com o seu filho é eterna.

E é dela que você precisa cuidar.

 

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